The Walking Dead é um dos grandes nomes do entretenimento na atualidade. Com o sucesso da série de TV e da HQ, não demorou muito tempo para invadir também o mundo dos games. A primeira incursão partiu da Telltale com o adventure The Walking Dead: The Game. Dividido em episódios e utilizando história e personagens totalmente diferentes daqueles da TV e da HQ, o jogo foi um sucesso de vendas e de crítica. Agora, a Activision encarou o desafio de fazer mais um jogo baseado na série, The Walking Dead: Survival Instinct.

Survival Instinct é um jogo de tiro em primeira pessoa (FPS) baseado inteiramente na série de TV, com direito a uma abertura no mesmo estilo e a sua tradicional musiquinha. A sua história foca nos irmãos Daryl (Norman Reedus) e Merle Dixon (Michael Rooker) logo após o apocalipse zumbi e antes do encontro deles com o resto do grupo perto de Atlanta. Tudo parece uma boa ideia, mas a realidade é que o resultado final foi um jogo com várias deficiências e que parece ter sido apressado para que fosse lançado antes do final da 3ª temporada na TV, comprometendo seriamente a sua qualidade.

O jogo segue mesmo a ideia do seu nome: sobrevivência. Com o decorrer do apocalipse zumbi, você percorre diferentes cidades em um carro com um grupo de sobreviventes tentando achar um local seguro, ao mesmo tempo em que busca por comida, munição e combustível. Enquanto você segue de uma missão a outra, você pode escolher três tipos de caminho diferentes, variando de ruazinhas (que gastam mais combustível, mas que possibilitam mais paradas para procurar itens) a rodovias (que gastam menos combustível, mas que só faz paradas quando realmente necessário). O seu carro também pode quebrar no meio do caminho (o que, por algum motivo inexplicável, ocorre com mais frequência nas rodovias), e aí você precisa parar e explorar a área pra encontrar outra peça do carro para substituir a antiga. E se acabar o combustível, mesma coisa. A princípio, este ritmo do jogo, com as suas missões extra, é interessante, mas depois se torna algo cansativo, principalmente porque os cenários das missões extra são extremamente repetitivos, e em pouco tempo você vai preferir ir logo pelas rodovias para chegar rápido à próxima fase.

Nas missões principais, você terá alguns objetivos a cumprir, além de side quests, que podem te dar acesso a novos personagens no seu grupo e a novos carros (que têm mais ou menos espaço para passageiros e itens, ou que gastam mais ou menos combustível). Na maioria das vezes, é bem fácil saber aonde você precisa ir, já que o jogo tem uma bússola que indica a direção exata de onde você deve seguir, facilitando as coisas. Em outros momentos, o cenário repetitivo pode confundir, especialmente na hora de fugir de uma horda de zumbis.

Mas como em todo FPS, o aspecto mais relevante acaba sendo mesmo a jogabilidade, e neste quesito, Survival Instinct não se sai tão bem. Você pode usar armas brancas, como facas, pedaços de cano, machados, etc, e uma variedade de armas de fogo, mas você é encorajado a utilizar as primeiras, em razão da escassez de munição e do barulho causado pelas últimas, o que atrai mais zumbis. Aí, você pode matar o zumbi silenciosamente por trás, enfiando a faca no seu crânio, ou dando vários golpes na cabeça enquanto ele se dirige até você. Se um deles te agarrar, você entra num modo similar aos Quick Time Events, no qual você tem que apontar o direcional e apertar o botão na hora certa para se desvencilhar e enfiar a faca na sua cabeça, mas é algo que nem faz muito sentido, e nem funciona tão bem. Em tese, se você está cercado por dezenas de zumbis, você poderia deixá-los todos te agarrarem, um a um, e matá-los desta forma, mas o aspecto confuso e pouco prático desta mecânica acaba só atrapalhando o jogo.

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Com quantas flechas se mata uma horda de zumbis?

Percorrendo as diferentes fases e matando dezenas de zumbis da mesma forma, a jogabilidade logo se torna cansativa, e embora faça sentido que o uso de armas de fogo seja restrito, é sempre divertido explodir a cabeça de zumbis, e o jogo poderia ter providenciado mais momentos assim. A arma mais legal seria a tradicional besta de Daryl, já que você pode usá-la para matar os zumbis à distância e silenciosamente, além de poder recolher os dardos depois. Entretanto, você só a pega na metade final do jogo, e o sistema de mira não é dos melhores, então é provável que você erre os tiros frequentemente. Aí, nem sempre é fácil descobrir aonde que os dardos foram parar depois.

Mas se o jogo almeja seguir o estilo survival horror, ele até atinge um certo grau de sucesso. Quando os zumbis te veem, a música começa a tocar, o que ajuda a servir de alerta que você está em perigo. É verdade que, no geral, os zumbis não coloquem nenhum medo, e matá-los acabe sendo uma tarefa rotineira. No entanto, há ocasiões em que Survival Instinct consegue criar alguns bons momentos de tensão. Em uma das fases, você entra num quarto iluminado pelo farol de um carro, e vê na parede a silhueta de um zumbi passando por trás, o que é uma ótima sacada. Ou então, quando você está num ambiente fechado e dezenas de zumbis começam a surgir de todos os lados e partem na sua direção, é difícil não ficar tenso enquanto você procura uma forma de fugir. São poucos momentos, mas que dão um toque legal que está faltando até em séries mais tradicionais, como Resident Evil.

A dificuldade do jogo acaba variando entre momentos fáceis e difíceis. Em algumas ocasiões, você matará tranquilamente os zumbis, um de cada vez. Já em outras, você será cercado por uma dúzia deles e morrerá repetidas vezes, tendo que recomeçar do último ponto que o jogo salvou automaticamente (que, às vezes, é bem distante). Esta falta de equilíbrio poderia ter sido sanada se o jogo disponibilizasse níveis opcionais de dificuldade, uma característica comum nos jogos de hoje e que realmente faz falta em Survival Instinct. Ainda assim, você logo descobre que a forma mais fácil de percorrer o jogo é simplesmente ignorar a maioria dos zumbis e correr por eles. Afinal, eles são mais devagar, e se você estiver num ambiente fechado, você pode fechar a porta, impedindo que eles entrem. Se a porta for de madeira, eles eventualmente conseguem quebrá-la, mas se for de metal, sem chance. Até porque matá-los acaba tendo pouca utilidade, já que eles frequentemente retornam, mesmo que do nada.

Assim, a escassez de munição, numa tentativa de imitar outros jogos no estilo survival horror, seria uma forma de aumentar a dificuldade, mas como você pode percorrer quase o jogo todo sem dar um tiro, você vai acabar com munição de sobra. O problema é o espaço limitado do seu inventário. Você apenas pode levar 10 itens ao mesmo tempo, e como cada fase está repleta de itens, é inevitável que você tenha que descartar alguns deles no meio do caminho, o que é uma pena. No começo de cada missão, você pode (e deve) deixar alguns dos itens no carro, mas até o espaço do carro é limitado, permitindo, em média, até 14 itens (um carro deveria suportar uma quantidade de itens bem maior do que uma pessoa pode carregar, não?). Depois disso, só na missão seguinte, o que não faz sentido, já que você começa a fase logo do lado do carro. Seria melhor se o jogo permitisse que você pudesse trazer de volta alguns itens e deixá-los lá, ou buscar outros que poderiam ser úteis para aquele momento.

De qualquer forma, encontrar os itens no cenário não é uma tarefa tão fácil, e exige exploração. Os itens que podem ser pegos nem sempre se ressaltam o bastante, e muitas vezes é difícil distinguir entre um pacote de comida (que recupera o HP e a energia para correr) e um pedaço de papel. De fato, os gráficos não são nada impressionantes pra um jogo lançado no final desta geração de consoles, com cenários repetitivos, estáticos e insossos. Mesmo os personagens não são bem desenhados, especialmente os coadjuvantes. Só se salvam, mesmo que por pouco, os zumbis, que são um pouco mais detalhados. Contudo, não é incomum ver os braços de um zumbi atravessando uma parede, entre outras tosqueiras gráficas.

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Merle Dixon aparece também, mas nada de jogar com ele. Uma pena.

Mas jogar com o Daryl e conhecer mais sobre o passado dele e do seu irmão deve ser interessante, não? Deveria, mas não é. A história é bem superficial, não explora nem um pouco os excelentes personagens que eles são na TV. É legal que eles sejam dublados pelos mesmos atores, mas os diálogos são fracos, então isso não ajuda muito. Os personagens secundários também agregam muito pouco à história: você os conhece, eles falam do que precisam, você os ajuda, e eles entram no seu grupo. Depois disso, é como se não existissem mais, você só os usa para procurar itens (combustível, comida ou munição) enquanto você faz a missão. Se morrerem, nenhuma lágrima é derramada, você só perde qualquer arma que você deu para ele usar (e dar ou não a arma faz pouca diferença para sua sobrevivência no final). O único personagem secundário interessante é um que revela uma relação com outros personagens conhecidos da série, mas se você não é fã da série de TV ou da HQ, não vai entender a referência.

E se o jogo peca na qualidade, também peca na quantidade. Você pode terminá-lo em apenas um dia se estiver inspirado, já que o jogo tem apenas 5 a 8 horas de duração. O lado positivo é que você é incentivado a jogar de novo, já que há momentos em que você tem que escolher entre fazer uma missão ou outra para seguir em frente. Além disso, diferentes missões têm diferentes personagens que você pode encontrar para se juntar ao seu grupo, e você ganha troféus e bônus diferentes para a próxima vez por cada personagem que permanece vivo quando você termina o jogo. De qualquer modo, teria sido interessante se tivessem feito um cenário alternativo em que você controla o Merle em vez do Daryl (lembram-se de Resident Evil 2, com Leon e Claire?), e é uma pena que não tenham pensado nisso.

Por fim, o que se pode dizer é que The Walking Dead: Survival Instinct é claramente um jogo feito para os fãs da série de TV e da HQ, ou aqueles que realmente gostam da temática zumbi. Se você é um deles, mesmo assim, aproxime-se com cautela. Se você não gosta de nenhum, não há motivos para encarar este jogo, que até tem seus pontos positivos e proporciona alguns momentos de diversão, mas que, no final das contas, apenas se aproveitou do sucesso da série em vez de explorar de forma apropriada o seu universo intrigante.

 

 Trailer de The Walking Dead: Survival Instinct:

(Agradecimentos especiais à NeoPlay que disponibilizou o jogo à equipe Bonus Stage.)