Em comemoração aos 50 anos da Turma da Mônica, a Maurício de Souza Produções fez várias ações, como coletâneas com ilustrações dos personagens por vários artistas, edições especiais, republicações de histórias antigas. Uma dessas ações trouxe gratas surpresas para os leitores de quadrinhos nacionais – a coleção Graphic MSP, de graphic novels com roteiros e artes por quadrinistas brasileiros.

É necessário ressaltar a importância de uma ação como essa no mercado brasileiro de quadrinhos – um ramo tão difícil, pouco rentável e complicado de se trabalhar para a grande maioria dos envolvidos. Dar a artistas nacionais a oportunidade de retrabalhar personagens clássicos para os leitores de gibis, que cresceram lendo as histórias de Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e vários outros renova não apenas o interesse de um público que não se voltaria mais a essas publicações, como destaca o trabalho de artistas excelentes, mas comumente desconhecidos de um leitor casual. Até o formato adotado para a série é prova disso: produtos de luxo sempre são bem vistos, e com a Graphic MSP não é diferente. Capa dura, papel couché e extras abrigam a arte de pessoas talentosas.

O primeiro, publicado em outubro de 2012, foi Astronauta – Magnetar, com arte e roteiro de Danilo Beyruth (Bando de Dois, São Jorge) e cores de Cris Peter (Casanova, Astonishing X-Men). Astronauta é encarregado de instalar sensores nas proximidades de um magnetar, um fenômeno espacial que ocorre com a formação de uma estrela de nêutrons, o que cria um campo magnético muito poderoso. Enquanto Astronauta está pousado em um asteroide, cuidando do seu trabalho, o magnetar expele uma onda radioativa que afasta o explorador de sua nave, e um fragmento de asteroide danifica a nave irremediavelmente. Astronauta se vê sozinho no espaço, sem perspectiva real de voltar para casa, porém destinado a sobreviver.

Magnetar se beneficia da novidade: um dos primeiros títulos da coleção, ele inova na caracterização de Astronauta, e com informações o bastante sobre astrofísica para dar ares sólidos de ficção científica a uma história cuja premissa é a solidão daqueles que se arriscam a explorar o desconhecido. Isso, porém, não tira o poder do argumento de Danilo Beyruth, que consegue fazer refletir sobre o impulso que afasta o personagem da família e de pessoas queridas para partir em busca de algo a mais, embora não se saiba bem o quê.

Uma outra coisa é a representação do espaço e sua comparação com o mar. O limite azul que separava continentes foi singrado, trazendo mudanças profundas para a humanidade. Para onde voltamos os nossos olhos? Para o espaço. A imensidão cósmica passa a ser “a última fronteira”, o limiar a ser desbravado, as profundezas do desconhecido absoluto. De maneira nada gratuita, o título traz uma espécie de posfácio assinado por Amyr Klink, navegador e explorador brasileiro conhecido por suas expedições.

astronauta-mag
O cockpit que parece saído de um submarino

As cores de Cris Peter adicionam camadas de significado ao espaço de Beyruth: indo dos tons de púrpura aos azuis profundos, é inadequado dizer que o peso da história seria o mesmo sem o seu trabalho. O uso alternado de paletas de cores dá o tom adequado para cada momento, agindo como um construtor importante de narrativa e guiando a leitura. Além disso, o quadrinho também tem usos interessantes de linguagem, que por vezes reforçam o sentimento de pequenez diante da imensidão do espaço. A passagem do tempo, simulando inicialmente a montagem do herói, também é representada de maneira inteligente, mostrando o potencial da mídia como meio narrativo.

Astronauta – Magnetar é, sem dúvida, um quadrinho que não deixa nada a dever para qualquer outro título do gênero. Uma história de sobrevivência no espaço sideral, implacável e hostil, na qual o leitor acompanha o sentimento de solidão e pequenez diante de uma imensidão desconhecida.