Todos queremos ser bons em algo. Se hoje temos acesso à internet e podemos mostrar os nossos talentos com muito mais facilidade, há mais de 30 anos era uma tarefa um pouco mais complicada, pelo menos quando o assunto é videogames. Ou melhor, arcades (que nós chamamos carinhosamente de fliperamas). Para os nerds mais tímidos, como o outsider do clipe da músicaSubdivisions‘ dos canadenses do Rush, ser o melhor em um jogo não é só uma grande conquista, mas uma forma de ser reconhecido por algo.

Billy Mitchell é um desses jogadores. E sua maior conquista é ser o campeão mundial de Donkey Kong.

The King of Kong: A Fistful of Quarters, documentário de Seth Gordon lançado em 2007, é mais do que uma hora e meia de disputas por pontos em jogos clássicos dos fliperamas, mas sim sobre Steve Wiebe, um pacato professor de Redmond, Washington, que, em um delicado momento de sua vida, compra uma placa do jogo para seu arcade e se prende à ideia de superar o recorde de Donkey Kong.

O documentário mostra que ser bom com o direcional e ter prática ao apertar os botões na hora certa é o menor dos pesadelos de Wiebe em sua jornada. Recheado de reconhecimento de padrões de movimentos, inimigos e qual a melhor forma de finalizar cada fase (até a fatídica killer screen do jogo), o filme apresenta figuras icônicas que os mais aficcionado por jogos clássicos jamais conheceria, como Walter Day, o criador da Twin Galaxies, cuja organização é a determinadora dos maiores recordes de jogos como Pac-Man, Galaga e Defender; Steve Sanders, ex-jogador profissional que foi desmascarado pelo próprio Billy Mitchell em 1982 após uma reportagem da Life Magazine – que aparece como uma espécie de vassalo de Mitchell; além do hilário Roy Shildt, vindo a se tornar o vilão que impulsiona Wiebe em sua jornada, e muitos outros. A quantidade de pessoas que aparecem no documentário apoia ainda mais a ideia de que entrar para o hall da fama dos classic arcades é mais complicado do que se possa imaginar. Principalmente quando o seu oponente é o maior cuzão da história e se apóia às piores formas de provar ser o campeão definitivo de um jogo de videogame.

O pesadelo de Wiebe vai além de bater a pontuação de Mitchell, que pra muitos é o maior gamer que o mundo já viu. The King of Kong mostra como a fama pode ser importante, mesmo a de uma pessoa que também tenha o recorde de Pac-Man e uma bem sucedida empresa de molhos de pimenta. E uma vez que essa fama intocável por quase 30 anos está ameaçada por um total desconhecido, não existe limites éticos para defendê-la.

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The King of Kong é mais do que um documentário sobre a disputa de dois homens por um recorde mundial, mas uma história sobre reconhecimento, fama, ego e obsessão. Vai além de uma disputa sobre quem é o maior jogador de Donkey Kong de todos os tempos, e mostra a importância dos videogames, que para muitos dessa geração são mais que um esporte, uma diversão ou um ponto de encontro, mas um estilo de vida.

Mesmo lançado em 2007, o documentário (que foi premiado no festival de Sundance no mesmo ano) foi o estopim para uma série de outros sobre o universo dos arcades e jogos clássicos, além de inspiração para muitos jogadores tentarem bater o recorde de Donkey Kong. The King of Kong, na realidade, é a prova viva da obsessão – seja ela boa ou não – de um pequeno grupo que ganha na visão do expectador a fama de herói e vilão: um em se superar e provar sua capacidade, o outro em se auto promover. O problema é quem pode provar ser o melhor: quem faz, faz ao vivo.

“Algumas pessoas meio que arruínam suas vidas para estar lá”. Talvez o melhor diálogo do filme

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The King of Kong: A Fistful of Quarters (2007)

Documentário, 1h19min

Direção e roteiro: Seth Gordon

Com Steve Wiebe, Billy Mitchell, Walter Day, Steve Sanders, Brian Kuh, Roy Shildt

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