A criatividade humana é a manifestação dos nossos sentimentos mais íntimos e intensos. Inúmeras formas de matar e torturar surgiram, e ainda surgem, por conta da intensidade do ódio que o ser humano sente pelo próximo. Inúmeros memes aparecem na internet, pela intensidade do sentimento humano em querer esquecer das responsabilidades e esses são só alguns exemplos. Mas a arte também bebe dessa fonte e um sentimento que fica muito claro em relação ao filme “Fala Comigo”, é o amor.

Com baixo orçamento, “Fala Comigo” é o primeiro trabalho do jovem Felipe Sholl como diretor, que também escreve e dirige o filme, e seu primeiro trabalho já lhe rendeu o Troféu Redentor do Festival do Rio de Melhor Longa-metragem de Ficção. O Festival do Rio também premiou Karine Teles, que interpreta Ângela no filme. E é nítido o carinho por toda a equipe em suas declarações sobre o filme.

O filme conta a história do romance entre Ângela (Karine Teles), uma mulher divorciada lidando com sua depressão, e Diogo (Tom Karabachian), um jovem ainda descobrindo sua sexualidade. Ambos se conhecem através de Clarice (Denise Fraga), terapeuta de Ângela e mãe de Diogo, o que provoca um surpreendente encontro.

Mas, como amor não é o bastante para criar uma obra prima, o filme tem falhas. A variação de tom, por exemplo, é um dos aspectos que mais o enfraquecem. Ao ouvir a premissa de uma mulher na faixa dos 40 anos e poucos anos que se apaixona por um jovem de 17 já começam a surgir algumas questões interessantes. “Esse amor dará certo?”, “O que os pais do garoto pensam disso?”, entre muitas outras. Isso enriquece o filme, sim, mas acaba se esvaindo com cenas que não precisariam estar lá.

Porém existe um aspecto que merece todo o destaque são os personagens. A forma com que Ângela interage com Diogo e vice-versa é totalmente coerente com o que o filme se propõe a fazer. Vale destacar, principalmente, a performance de Karine Teles como um dos pontos mais fortes do filme: a forma como convence o espectador de todos os sentimentos que Ângela passa, desde a tristeza até o amor.

Isso acaba causando um dos pontos que desgasta a obra: Ela mesma não sabe o que é. Quem é o protagonista? É o garoto? É a mulher? É o romance entre eles? Esse filme é um drama latino, estilo novela? Ou um drama psicológico? É uma crítica à sociedade, um estudo de como nossas relações são avaliadas? Pode ser tudo isso ou não é nada. Fica muito difícil colocar a mão no fogo sobre essas questões, porque o filme não deixa clara, em nenhum momento, qual é a sua intenção além de fazer Ângela e Diogo se pegarem.

Mesmo com um roteiro interessante, Fala Comigo trabalha com boas questões, mas queria ter gostado muito mais. Talvez a inexperiência de um diretor jovem não deixou clara suas intenções e acaba não sendo muito marcante, além de seu pitch, mas agrada com sua premissa. O filme estréia nesta quinta-feira, 13 de julho de 2017, nos cinemas.