Se você pesquisar sobre The Legend of Zelda: Skyward Sword pela internet, você encontrará inúmeros artigos dissecando o game, discutindo suas qualidades e defeitos, e criando inúmeras teorias sobre toda a saga Zelda. Porém escrevo essa matéria para mostrar porque Skyward Sword caiu por terra, sendo pouquíssimo visto em todo o universo gamer em relação à promessa que tem. É claro que, como qualquer jogo, Skyward Sword tem suas qualidades e seus defeitos mas, como um todo, é um ótimo jogo e com certeza é capaz de agradar desde o fã hardcore que ainda guarda o seu cartucho de A Link to the Past em perfeito estado até quem não conhece nada além de Twilight Princess. Mas porque um jogo que deveria ter fechado a era do Nintendo Wii com chave de ouro apareceu e desapareceu tão rápido? Como um jogo que quando revelado foi tido como o jogo mais esperado de sua respectiva E3 ter sido lançado sem brilho algum e ignorado? Simples: Skyward Sword foi mais uma vítima da autoflagelação da Nintendo.

Para entendermos como isso aconteceu, precisamos voltar à E3 de 2009. Naquele ano, a Nintendo revelou o próximo título da série Metroid e deu mais informações para vários outros títulos que seriam lançados em breve. Porém, o que mais chamou a atenção de todos, tanto dentro quanto fora da feira, foi uma simples artwork que mostrava um Link realista de costas para uma figura que lembrava a sua famosa Master Sword. Esse pôster – um simples pôster – reacendeu a chama da fandom de Zelda nos quatro cantos da internet. Dentro de dias, esse jogo ainda sem título se tornou o lançamento mais esperado da Nintendo, e motivo de conversa para gamers em geral. Tudo isso vindo de um simples pôster com nenhuma outra informação que o acompanhasse.

 

Depois dessa revelação sem grandes detalhes – aliás, sem nenhum detalhe – a Nintendo não falou mais nada sobre seu jogo por mais um ano, mas isso não fez nada para diminuir as expectativas. O título não anunciado logo chegou ao topo da lista de jogos mais esperados da E3 2010 no Gametrailers, e a antecipação do jogo chegou a um nível febril. E foi aí que as coisas começaram a dar errado.

O primeiro erro ocorreu logo na mostra do jogo, que não aconteceu naquele clima de final de um trailer épico. A primeira mostra do jogo abriu a conferência da Nintendo. O título mais esperado do ano passou a ser visto como uma introdução para as coisas maiores e melhores do final. Para aqueles que ficaram se perguntando por que diabos eles começaram com Zelda, isso foi logo respondido: o jogo não estava nem perto de estar completo. A introdução de Skyward Sword não chegava nem aos pés da introdução de seu antecessor, Twilight Princess. Ela apresentava um Link pastel totalmente diferente da arte esperada pelos jogadores – que se aproximaria mais do prometido pelo pôster do ano anterior – correndo por uma floresta e matando goblins vermelhos que vestiam shorts com estampa de leopardo. Decepcionante, se comparado à introdução do título anterior, mas as coisas estavam só começando, e ia ficar pior.

Não deu certo. A experiência profunda, cheia de realismo e com movimentos avançados de espada de Zelda que todos esperavam se revelou não-funcional, cheia de bugs, e repleta de animações e sons reutilizados de Twilight Princess, com só uma pintada de cor a mais. O Zelda que a Nintendo quis assegurar que mostraria em 2010 foi mostrado como um jogo em beta, numa única área florestada. E para piorar o quadro, o próprio Miyamoto não conseguia jogar o game em frente à platéia. É claro, o problema apareceu por causa do infravermelho de todas as câmeras, o que gerou interferência, e quando todos os outros puderam testar o jogo em stands da Nintendo, sim, funcionou perfeitamente. Mas o dano havia sido feito e a imagem do jogo havia tomado um golpe horrível. Skyward Sword entrou em cena cedo demais.

Agora obscurecido por inúmeros outros jogos, Skyward Sword tinha que recapturar os holofotes de um jeito ou de outro se quisesse que o perdoassem pela revelação destrutiva. Agora era o momento crucial em que a Nintendo tinha que mostrar tudo o que o jogo tinha a oferecer. Até então, somente um trailer do jogo havia saído; um teaser bem sem graça que mostrava Link fazendo coisas típicas de todo Zelda em lugares típicos de todo Zelda. Nada disso mostrava realmente sobre o que era o jogo. E somente na GDC 2011 (Game Developers Convention) a Nintendo resolveu lançar o primeiro trailer “oficial” do jogo, que mostrava mais a essência de Skyward Sword. Serviu seu propósito e, mesmo não sendo um trailer muito emocionante, ele mostrou mais que o demo do jogo disponível na E3 2010, e foi capaz de segurar um certo interesse no que viria para a E3 2011. Zelda estava a um passo de voltar para os trilhos certos.

A E3 de 2011 era o momento do decisivo. A bagunça que a precedeu fazia Skyward Sword parecer algo falho, e essa E3 era o momento de o jogo finalmente florescer e tomar o mundo dos jogos de uma vez por todas, senão com certeza seria ignorado e esquecido devido aos outros sucessos dos concorrentes. Mas, infelizmente, a Nintendo errou mais uma vez. Toda uma orquestra foi organizada para comemorar o aniversário de 25 anos da série e houve uma grande comoção em torno do evento. Em teoria, é uma ótima ideia, mas acabou por machucar ainda mais Skyward Sword. No fim da apresentação da orquestra, somente um pedacinho de gameplay do jogo foi mostrado, quase escondido, em um stand. Ironicamente, a celebração dos 25 anos passados da série acabaram por obscurecer o jogo futuro. Mas, na verdade, o que mais acabou com a espera do jogo nessa E3 não foi a falta de informação. Houve mais uma coisa, mais um erro da Nintendo, que simplesmente detonou Skyward Sword de vez. Foi a maior coisa que a Nintendo apresentou ano passado, e chamou tanta atenção que as filas para isso eram maiores do que as filas para os stands aonde Skyward Sword podia ser jogado. Era a demo do Zelda para Wii U. Um simples vídeo não-jogável se repetindo sem parar que mostrava Link enfrentando Armogohma, em uma interface HD e com gráficos de ultima geração executados em tempo real. Era só um vídeo, mas capaz de nos mostrar o que esperar do Zelda da próxima geração e de acabar de vez com toda e qualquer esperança da Nintendo de trazer de volta a expectativa para Skyward Sword. O último jogo da série para Wii só seria lançado dali a quatro meses, e já estava sendo ignorado pela comunidade gamer em geral.

Zelda HD Tech Demo E3 2011
Ao mostrar o futuro da série toda, a Nintendo transformou Skyward Sword em “só mais um jogo”.


Depois de fazer Skyward Sword passar de jogo mais esperado do ano para uma ideia falha em um console esquecido, o que faria a Nintendo conseguir trazer o jogo de volta à atenção de todos? Aparentemente, a companhia achou que a resposta fossem trailers. Muitos e muitos trailers que mostravam mecânicas diferentes dentro do jogo, mas que não eram capazes de realmente capturar a sua essência. Somente um trailer – chamado de trailer épico, e com razão – realmente mostrou sobre o que era o jogo, mas só foi lançado em fevereiro de 2012, ou seja, mais de dois meses depois que o jogo já havia sido lançado. Pouco demais, tarde demais.

No fim, a falta de sucesso de Skyward Sword – comparativamente falando, é claro – se deveu a vários fatores alheios à própria capacidade do jogo, mas principalmente por falhas da Nintendo na sua apresentação nos dois anos que precederam seu lançamento após sua primeira divulgação. Acabou sendo visto como o fim do Wii; o último suspiro de um console em decadência.  Mas o fato do jogo não ter vivido às expectativas no campo de vendas não é surpreendente quando consideramos quando “estresse” foi colocado em cima do jogo. E um só jogo não consegue sustentar um console, seja o jogo que for. Combinando o ambiente em que foi lançado (junto com games como The Elder Scrolls V: Skyrim e Uncharted 3) com o desapontamento de não ser a experiência realística que todos foram levados a crer que seria e com os tiros no pé que a Nintendo deu em si mesma ao tentar trazer o jogo novamente para debaixo dos holofotes, parece mesmo que não havia maneira de levantar a popularidade do jogo novamente. E agora resta à Nintendo somente aprender com o próprio erro e não sabotar o próximo título de Zelda, que já nos deixa esperando ansiosos para a chegada do Wii U.

E vocês? Acham que se a Nintendo tivesse agido diferente eles conseguiriam salvar o jogo? Ou era mesmo impossível trazer de volta a hype que Skyward Sword era quando foi anunciado? O que vocês fariam de diferente?

(Review por Murilo Camarini)